A cidade, em tons de vermelho e laranja, incita à união e à revolta.
São operários, comerciantes, professores, estudantes, imigrantes e mesmo vagabundos. Mas, por terem uma voz que se quer fazer ouvir, todos são cidadãos. Recusam-se a reduzir a democracia a um sarrabisco no papel, em altura de eleições.
Na Piazza Magiore, discute-se politica e problemas sociais. Fala-se da máfia e da inércia do governo. Relembra-se a “obra” de Mussolini e apela-se para que não se repitam os erros do passado.
A hora marcada é das 11h às 15h. Mas às 19h, ao cair da noite, já ninguém se recorda desse acordo puramente formal e a tertúlia continua animada. Quando interpelo um dos participantes, ele diz-me: “Só acaba quando chover, quando Deus nos enviar um sinal”. E Deus ameaçou a tarde toda, mas só mesmo à noitinha é que os afugentou.
Enquanto um dos cidadãos discursa, ouvem-se pontualmente algumas vozes de concordância ou protesto. Também pontualmente os ânimos exaltam-se mas todos conseguem fazer ouvir o seu ponto de vista porque toda a gente o quer realmente ouvir.
Observo-os, vestidos informalmente, alguns com sacas nas mãos, porque vão ou vêm do emprego; alguns sentados no chão, ao ar livre da praça. Nos seus rostos, é fácil detectar o entusiasmo e ânsia para falar logo de seguida.
Lembro-me então das minhas sessões diante da televisão a ver a Assembleia da República Portuguesa. Lembro-me dos fatos e gravatas dos deputados, das caras de aborrecimento, dos insultos politicamente correctos, bem como da minha própria indiferença. Um contraste caricato.
Nos papeis que nos entregam lê-se: Respingiamo il nostro individualismo e la nostra indifferenza verso ciò che si circonda. Scendiamo in piazza!
Eu sento-me na praça como os outros. E de pescoço esticado acompanho tudo o que se diz sem conseguir tirar um sorriso de euforia da cara. Aqui não há "eu’s", há um só “nós”. E, por isso, sinto-me como se pertencesse aqui.
terça-feira, 31 de março de 2009
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