It took me nearly a year to get here. It wasn’t so hard to cross that street after all. It all depends on who’s waiting for you on the other side.
Elizabeth, "My Blueberry Nights"
O João é da Venezuela, filho de pais portugueses. Estuda em Roma há dois anos, mas não vê o dia em que possa sair daqui e trabalhar em Portugal. Engraçado.
Enquanto fazíamos o trajecto Aeroporto de Fiumicino – Stazione Ponte Lungo, João enumerava-me as cidades por onde já tinha viajado com os amigos: Viena, Sófia, Varsóvia, Dublin, Londres, Amsterdão. E eu imaginava o João, de mochila às costas, saltando de cidade em cidade, sem rumo, sem objectivos, apenas viajando.
No dia em que cheguei a Fiumicino, o João trazia a sua mochila. À vista, numa bolsa exterior, reconheci a língua portuguesa num jornal que estava prestes a cair. Um sinal de familiariedade levou-me imediatamente a abordá-lo. "Desculpa, como vou para a estação ferroviária?"
Não sei qual era o jornal. Mas também não interessa porque eu sei que, na viagem Porto – Roma, o João não leu o jornal. As folhas cinzentas serviram apenas para o João escrevinhar esboços dos seus próximos trajectos, idealizar rumos, imaginar cidades, quem sabe desta vez além Europa.
Sei que ele sorria quando me via atrapalhada com tamanhas malas, ou porque não passava numa porta ou porque não encaixava nas escadas rolantes ou porque o pavimento me pregava partidas. Mas o seu sorriso reconfortava-me, e sorria-lhe de volta enquanto, embaraçada, sacudia o cabelo da frente dos olhos e da boca. Imediatamente ele dizia um “Eu ajudo-te”, com uma miscelânea de entoações que denunciava a quantidade de línguas que falava. Ele pegava então numa das malas e seguia à minha frente, enquanto eu respirava de alívio.
Trocamos números. Mas não espero encontrá-lo. Sei que ele está já de mochila às costas rumo a outra cidade. É assim que quero imagina-lo.
Espero apenas tornar a encontrá-lo quando me sentir de novo uma criança perdida num mundo desconhecido.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Assino em baixo. Também acho que vou passar aqui todo o santo dia.
ResponderEliminarNunca escreveste tão bem, minha Nês.
Obrigada João por teres tomado conta da minha aventureira.
Vou agora cuscar as fotografias.
Deixo-te um beijinho,
Tati