terça-feira, 26 de maio de 2009
As Memórias do Gueto Hebraico de Veneza
A cidade de Veneza relembra os judeus venezianos que foram deportados para os campos de concentração nazis a 5 de Dezembro de 1943 e a 17 de Agosto de 1944.
Uomini, donne e fanciulli gregge per il crematório
Avanzati verso l’orrore Sotto la frusta del bóia
Il vostro triste olocausto é scolpito nella storia
E nulla cancellerà i vostri morti dalla nostra memoria
Perchè le nostre memorie sono la vostra única tomba.
Men, Women, Children masses for the gas chambres
Advancing toward horror beneath the whip of the executioner
Your sad holocaust is engraved in history
And nothing shall purge your deaths from our memory
For our memories are your only grave.
André Tronc, Forças Combatentes Francesas
Uomini, donne e fanciulli gregge per il crematório
Avanzati verso l’orrore Sotto la frusta del bóia
Il vostro triste olocausto é scolpito nella storia
E nulla cancellerà i vostri morti dalla nostra memoria
Perchè le nostre memorie sono la vostra única tomba.
Men, Women, Children masses for the gas chambres
Advancing toward horror beneath the whip of the executioner
Your sad holocaust is engraved in history
And nothing shall purge your deaths from our memory
For our memories are your only grave.
André Tronc, Forças Combatentes Francesas
Veneza, Porto de Chegada...e de Partida
Era um daqueles aeroportos pequenos e manhosos, para voos domésticos e lowcost. Lá fora, encontravam-se estacionados em fila uns autocarros azuis, de portas abertas, a chamar os recém-chegados. A temperatura de 33 graus, os motoristas a conversarem em rodinha com as suas camisas manchadas de suor e os bancos de veludo dos autocarros exerciam uma força de atracção oposta àquela direcção. Mas Veneza esperava-nos e a ATVO, assim se chamava a companhia de autocarros, era a nossa melhor opção.
Para não exigir demasiado dos seus funcionários em tempos tão quentes, a ATVO decidiu substituir a simpatia dos mesmos por um panfleto de quarenta e algumas páginas, daqueles que ninguém lê, tentando apostar numa boa comunicação empresarial. No panfleto azul, explicavam uma série de procedimentos da empresa, regras de conduta, bem como direitos e deveres do cliente. Ora nas primeiras páginas, decidiram clarificar, para clientes eventualmente mais leigos, o “conceito de viagem”:
Il viaggio deve essere intenso nella sua accezione più ampia. Esso, infatti, inizia nel momento in cui sorge l’esigenza di spostarsi e termina quando si giunge alla destinazione finale – assieme con i beni che accompgnano il viaggiatore.
A viagem deve ser intensa na sua acepção mais ampla. Esta inicia-se no momento em que surge a exigência de deslocamento e termina quando se chega ao destino final, juntamente com os bens que o viajante transporta.
“Ora, palavras sábias!”, pensamos. Esta explicação originou todo o género de piadas para os dias seguintes. Em alturas em que os pés já latejavam com dores e em que o calor nos consumia, reflectir sobre o “conceito de viagem” servia de trunfo para fazer nascer gargalhadas de onde antes já só saiam suspiros de desespero pela temperatura desregulada ao nosso corpo. E começava sempre assim... “Ora vamos lá reflectir sobre o conceito de viagem. Quando começa? Quando acaba?”
Acabaram rápido os dois dias passados em Veneza, debaixo do sol abrasador, ao som de concertinas e vozes masculinas que cantavam músicas populares italianas, entoando ao longo dos canais, onde a beleza dos edifícios se duplicava nos reflexos da água. Como sempre acabam todas as viagens.
Ao final do segundo dia deixamos a Terra do Nunca. No avião de regresso, ela que me acompanha sempre, disse-me “Não quero voltar para Portugal...”. “Eu também não...”, respondi. Mas também não queria voltar para Roma. Eu queria ficar na Terra do Nunca, que não é Veneza, nem outra cidade qualquer, não é um país, nem um qualquer ponto geográfico. É...um estado de espírito.
Há muito que a viagem em Roma se acabou. Porque a viagem acaba-se quando os sentidos deixam de funcionar correctamente. O olfacto entope-se, os olhos já não enxergam as tonalidades entre as várias cores, os ouvidos escutam só ruídos de carros e motorizadas...e disparates. Os disparates passam a perturbar-nos terrivelmente. Os dedos, esses, enferrujam porque já não recebem estímulos.
A viagem acaba quando se sente saudades, quando nos dá vontade de dizer o quanto gostamos das pessoas que gostamos. É então que surge a “exigência de deslocar-nos”, porque os dedos suplicam por algo novo, por alimento para a alma, por algo “intenso, na sua acepção mais ampla”.
Afinal...eram mesmo sábias palavras...
Para não exigir demasiado dos seus funcionários em tempos tão quentes, a ATVO decidiu substituir a simpatia dos mesmos por um panfleto de quarenta e algumas páginas, daqueles que ninguém lê, tentando apostar numa boa comunicação empresarial. No panfleto azul, explicavam uma série de procedimentos da empresa, regras de conduta, bem como direitos e deveres do cliente. Ora nas primeiras páginas, decidiram clarificar, para clientes eventualmente mais leigos, o “conceito de viagem”:
Il viaggio deve essere intenso nella sua accezione più ampia. Esso, infatti, inizia nel momento in cui sorge l’esigenza di spostarsi e termina quando si giunge alla destinazione finale – assieme con i beni che accompgnano il viaggiatore.
A viagem deve ser intensa na sua acepção mais ampla. Esta inicia-se no momento em que surge a exigência de deslocamento e termina quando se chega ao destino final, juntamente com os bens que o viajante transporta.
“Ora, palavras sábias!”, pensamos. Esta explicação originou todo o género de piadas para os dias seguintes. Em alturas em que os pés já latejavam com dores e em que o calor nos consumia, reflectir sobre o “conceito de viagem” servia de trunfo para fazer nascer gargalhadas de onde antes já só saiam suspiros de desespero pela temperatura desregulada ao nosso corpo. E começava sempre assim... “Ora vamos lá reflectir sobre o conceito de viagem. Quando começa? Quando acaba?”
Acabaram rápido os dois dias passados em Veneza, debaixo do sol abrasador, ao som de concertinas e vozes masculinas que cantavam músicas populares italianas, entoando ao longo dos canais, onde a beleza dos edifícios se duplicava nos reflexos da água. Como sempre acabam todas as viagens.
Ao final do segundo dia deixamos a Terra do Nunca. No avião de regresso, ela que me acompanha sempre, disse-me “Não quero voltar para Portugal...”. “Eu também não...”, respondi. Mas também não queria voltar para Roma. Eu queria ficar na Terra do Nunca, que não é Veneza, nem outra cidade qualquer, não é um país, nem um qualquer ponto geográfico. É...um estado de espírito.
Há muito que a viagem em Roma se acabou. Porque a viagem acaba-se quando os sentidos deixam de funcionar correctamente. O olfacto entope-se, os olhos já não enxergam as tonalidades entre as várias cores, os ouvidos escutam só ruídos de carros e motorizadas...e disparates. Os disparates passam a perturbar-nos terrivelmente. Os dedos, esses, enferrujam porque já não recebem estímulos.
A viagem acaba quando se sente saudades, quando nos dá vontade de dizer o quanto gostamos das pessoas que gostamos. É então que surge a “exigência de deslocar-nos”, porque os dedos suplicam por algo novo, por alimento para a alma, por algo “intenso, na sua acepção mais ampla”.
Afinal...eram mesmo sábias palavras...
terça-feira, 5 de maio de 2009
Subscrever:
Mensagens (Atom)