domingo, 26 de abril de 2009

2762 anos

“Capisci tutto? Sei portoghesa, certo?” Eu lia um painel explicativo sobre a formação de Roma quando o senhor me abordou. Ao nosso redor, as pinturas nas paredes contavam à sua maneira o nascimento da cidade. Mas o senhor tinha esperança de poder ser ele a contar-me a história.
Eu respondi-lhe “quase tudo”. Lendo, é fácil perceber. Difícil é acompanhar o ritmo desenfreado da oralidade dos italianos.
O senhor passeava sozinho pelos Museus de Capitolini, dois Palácios gémeos colocados frente a frente na praça desenhada por Miguel Ângelo. Demorava longos espaços de tempo a admirar cada pintura barroca das paredes majestosas do Palazzo dei Conservatori. De vez em quando, deixava um ouvido prestar um pouco de atenção ao que o rodeava. Foi assim que me ouviu falar e logo identificou o português.
O senhor perguntou-me “Sabes já a lenda da Loba?”. Eu disse que sim. Mas ele fez-me questão de contar. E eu gostei de ouvir de novo.
Falava pausadamente, para que eu percebesse tudo. O seu tom fazia acreditar que contava uma história vivida na primeira pessoa. Ouvi então de novo a história de Rómulo e Remo, que, abandonados à nascença, foram protegidos e amamentados por uma loba. Mais tarde, depois de terem fundado aldeias rivais, um desentendimento entre os dois irmãos levou Rómulo a matar Remo e foi então que Roma se desenvolveu.
Enquanto ele falava, eu olhava para a pintura da parede ao fundo, que ilustrava as suas palavras. “E a do rapto das sabinas? Não sabes pois não?”. Esta era a história que a parede do nosso lado direito contava. Eu tinha lido algures, mas disse-lhe que não e incentivei-o a contar.
Entretanto, já se tinha criado uma plateia ao nosso redor a ouvir a história de como os romanos raptaram as mulheres do povo dos Sabinos para povoar a cidade. Decidi seguir caminho.

Estávamos a meados de Abril. Por toda a cidade se comemorava o 2762º aniversário de Roma.



Sem comentários:

Enviar um comentário